Presidente Prudente abriga sítio paleontológico com fósseis da época dos dinossauros

18/08/2021

Imaginar um titanossauro andando por Presidente Prudente pode parecer uma ideia absurda, mas os fósseis do Brasilotian nemophagus, descobertos pelo paleontólogo Willian Nava, comprovam a existência desse animal em terras prudentinas.

 

E esse não é o único caso, outros fósseis de animais do Período Cretáceo, que viveram há cerca de 70 a 80 milhões de anos, tornaram Prudente conhecida na comunidade científica.

 

“Presidente Prudente e outros municípios da região são conhecidos do meio científico há décadas”, conta o paleontólogo Willian Nava, responsável pela descoberta dos fósseis de dinos na cidade e também em Marília. “Desde a implantação dos trilhos da ferrovia Sorocabana, no início do século passado que existem relatos de fósseis encontrados por operários, agricultores… Porém, boa parte destes foi perdida por desconhecimento ou por esse material ser confundido com ossos de boi”, revela Nava.

 

O fóssil do Brasilotian nemophagus foi encontrado em solo prudentino em 2000, nas margens da rodovia Raposo Tavares, durante a realização de obras. Em 2013, em parceria com colegas do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Nava descreveu formalmente a descoberta.

 

Desde 2020, a área do sítio Paleontológico “William’s Quarry” de Presidente Prudente ou ‘Sítio das Aves’ está praticamente toda cercada, garantindo a continuidade dos trabalhos de escavações, e o terreno foi tombado pelo município através do Decreto nº 30.661/2020.

Antes da descoberta de fósseis em setembro de 2004 o terreno se assemelhava a tantos outros, cheio de mato e sem qualquer diferencial aos olhos leigos. “Mas numa das bordas eu notei a presença de pequenos fósseis, material difícil de perceber se a pessoa não tiver um olhar clínico e algum conhecimento”, lembra Nava, que atua há 28 anos como paleontólogo.

 

A área de escavações ficou conhecida como Sítio das Aves, pois os ossinhos incrustrados na rocha pertenciam a um grupo de aves extintas, chamado de “aves enantiornithes”. Ao longo dos anos, Nava realizou sozinho, a coleta de dezenas de ossinhos, e todo o material foi enviado ao Museu de Paleontologia de Marília, que possui total estrutura para estudos futuros, mas destaca que “caso fossem ossos grandes, de dinos, com certeza teriam chamado a atenção dos moradores do conjunto habitacional logo ao lado”.

 

Relevância Científica

 

As descobertas de fósseis de aves atraiu a atenção de um dos poucos estudiosos do assunto no mundo, o Prof. Dr. Luis Chiappe, do Museu de História Natural de Los Angeles, que passou a trabalhar em conjunto com o paleontólogo mariliense. Em 2017, após dois anos de parceria, Chiappe e pesquisadores de Los Angeles e da Argentina visitaram, pela primeira vez, Presidente Prudente.

 

“Os pequenos fósseis foram considerados de grande relevância pelo grupo de pesquisadores, devido ao grau de preservação e mesmo pela quantidade de material coletado, o que permite avançados estudos, e o sítio passou a ser chamado de Sítio William’s Quarry”, conta Nava. O trabalho em conjunto envolve o Museu de Paleontologia de Marília, Museu História Natural de Los Angeles e o Museu Argentino de Ciências Naturales de Buenos Aires.

 

É importante destacar que parte do material fóssil coletado ainda está em estudo, portanto não pode ser exposto ou acessado pelo público em geral. Esses fragmentos carregam informações históricas, e irão gerar artigos científicos que serão publicados para toda comunidade científica e população.

 Willian Nava, paleontólogo responsável pelo Sítio das Aves ao lado do Secretário de Turismo de Presidente Prudente, Adolfo Padilha

“Pedimos que o próprio sítio paleontológico fique como está. Para facilitar as escavações em andamento. O que necessitamos apenas é que a prefeitura mantenha o sítio livre do mato que cresce aos poucos, e que acaba tampando as rochas”, frisa o paleontólogo.

 

As placas colocadas no local ajudam a manter o espaço preservado para as escavações, mas é importante ressaltar que pessoas sem conhecimento sobre o assunto não devem tentar escavar, pois esse tipo de intervenção pode ser prejudicial para os estudos.

 

“Temos três artigos descritivos que deverão ser publicados com os fósseis das aves, o primeiro deve sair ainda este ano, e os outros dois deverão sair em 2022. Ou seja, esses ossinhos são importantes para a ciência, mas para exposição ao público tem pouco “valor” já que o público quer ver mesmo ossos e réplicas de dinossauros, como tem em certos Museus do Brasil e do exterior. É o que mais chama a atenção, pois são animais que já não existem mais”, esclarece Nava.

 

No sítio em Prudente também foram encontrados ovos fossilizados, possivelmente de crocodilo, porém a espécie ainda não foi identificada, pois o material está em análise. “O sítio é extremamente importante para a ciência devido ao material fóssil das aves, constituindo um dos únicos sítios paleontológicos do Brasil com esse tipo de fóssil datado da época dos dinossauros”, completa o paleontólogo.

 

Outros pesquisadores já encontraram e estudam fósseis em toda a região de Prudente, todos os materiais escavados são enviados para estudo e posteriormente são mantidos em museus, pois necessitam ficar sob os cuidados de pesquisadores e paleontólogos. “Tão logo tenhamos as publicações dos artigos com os fósseis das aves, poderemos disponibilizar esses fósseis através das redes sociais, e mesmo, futuramente, fazer uma exposição presencial com alguns espécimes fósseis num local adequado”, conclui Nava.